A minha casa de sonho - parte II

A minha casa de sonho - parte II

Há umas semanas atrás escrevi um texto descrevendo como seria a minha casa de sonho na cidade de Lisboa. Logo na altura pensei também escrever umas linhas sobre como seria a minha casa ideal fora da cidade. O meu retiro, por assim dizer.

Idealmente seria num terreno com personalidade: Algumas árvores, de preferência uma vista desafogada e bonita, com boa exposição solar. Uma praia, um lago ou uma montanha seriam localizações potencialmente idílicas. Mas um terreno amplo, com relevo ondulado, vegetação relativamente densa e variada, que proporcione sombra e permita abrir a casa para a envolvente mantendo bastante privacidade, já me faria um homem feliz.

Se para uma casa na cidade o meu sonho passa por remodelar um dos inúmeros prédios devolutos que existem no seu centro, o meu sonho de “casa de campo” é um edifício feito de raiz, isolado, ou pelo menos com uma distância confortável às construções mais próximas.

A sua forma e configuração dependerá sobretudo do local em que se inserir. Por isso, mais do que descrever formalmente uma casa, este texto pretende explicar o que estaria por detrás da sua concepção:

- Será decididamente moderna e minimalista. Acredito na poesia da linha recta e a casa de um arquitecto deveria ser um manifesto dos seus ideais (o que nem sempre acontece, por experiência própria).

- Uma marca discreta mas afirmativa na paisagem, integrada com atenção ao contexto mas sem complexos, induzindo a sensação de que a casa está incrustada naquele sítio, passando a fazer parte dele, acrescentando-lhe algo, reinventando-o – fazendo o lugar: A noção de que aquele passou a ser um lugar único com a construção daquela casa, sendo possível pensar-se, daqui por uns anos, que aquela construção esteve sempre ali. E que faz todo o sentido que ali esteja. Esta não será necessariamente uma noção imediata. A arquitectura, para ter espessura, necessita de tempo, de ser testada e reavaliada vinte ou trinta anos depois de construída.

- Terá grande abertura entre interior e exterior, prolongando o exterior para dentro de casa e vice-versa, mas permitindo de forma discreta e eficaz encerrar a casa quando os seus ocupantes estiverem ausentes.

- Será edificada com materiais simples e robustos, que envelheçam bem mas acusem a passagem do tempo. Materiais que amadureçam, em contacto com a natureza.

- Simultaneamente sólida e delicada, terá grande transparência para as vistas mais interessantes, sendo opaca para as demais. A sua organização interior reflectirá a informalidade a que aspira uma casa de férias. Com o tempo, parte da vegetação envolvente crescerá em redor das paredes da casa, tornando os seus contornos menos exactos e perceptíveis.

- Cómoda e espaçosa, sem ser enorme, será fluida mas com alguns recantos e construída de forma cuidada, para ser fresca no verão e quente e acolhedora no inverno.

- Será um lugar de contemplação, de repouso e de convívio. Capaz de inspirar grandes alegrias e de acolher com dignidade tristezas infinitas. Para viver, criar laços e envelhecer, sabendo que quando já cá não estivermos quem o herdar não se vai querer desfazer dele.