Uma sensação de pertença

Uma sensação de pertença

As férias são um tempo de viagem. Todos nós fizemos já as nossas viagens memoráveis, que ficaram como recordação de bons momentos, às vezes de descobertas exteriores ou interiores. Por vezes, essas recordações são marcantes para toda a vida.

Sempre que posso, faço uma viagem a um lugar diferente, seja de uma lista de destinos há muito em lista de espera, seja a um qualquer sítio onde nunca me tinha apetecido ir. Por vezes não suspeitava sequer da sua existência. Em parte é esse o encanto de uma viagem, a descoberta de qualquer coisa nova, de algo que para nós é de um formidável exotismo. Mesmo que esse exotismo só o seja para nós e para outros forasteiros. Aliás, por definição, um lugar exótico só o é para um estranho. Haverá sempre alguém para quem aquele lugar é muito, por vezes demasiado, familiar.

As viagens que vamos fazendo, seja por férias ou trabalho, vão enriquecendo a nossa vivência, tornando-nos mais cultos e sabedores. E se formos afortunados, mais tolerantes à diferença. Aumentam a nossa experiência e a nossa inteligência.

Sermos rapidamente transportados para um local que nos é exótico tem ainda a vantagem de nos fazer rapidamente esquecer o stress dos últimos dias, e afastar-nos do nosso quotidiano. Temos mais com que nos preocupar! O exótico, em princípio, proporciona sempre momentos memoráveis e ferias aliciantes.

Mas há uma outra componente essencial às minhas férias, desde criança. Mesmo que faça uma qualquer fantástica viagem, tenho de passar uma ou duas semana na Ericeira, pequena vila costeira a Norte de Lisboa.

Embora a pequena distância, este local tem um clima completamente diferente da cidade onde vivo. Se Lisboa é tórrida no verão, a Ericeira é amena e fresca. Às vezes é ventosa (Às vezes demasiado ventosa, para ser exacto). Quando era criança passava aqui 3 meses do ano.

Outrora conhecido como porto de pesca (o peixe e o marisco continuam a ser excelentes) é hoje mais conhecida pelos eventos relacionados com o Surf. Tem várias praias com belas ondas e o único português que integra o circuito ASP aqui vive e aqui desenvolveu as suas aptidões.

Não se explica facilmente o porquê de um número cada vez maior de pessoas afluir a esta vila e a estas praias no verão: tem um clima instável e fresco, nevoeiros matinais, nevoeiros à tarde, muito menos horas de sol, noites frescas, água fria e praias com rochas e ondas fortes. Mas é certo que, para os incondicionais, este é o melhor local do mundo, ou pelo menos aquele em que nos sentimos melhor. Desligar o carro e sair para a rua é toda uma experiência sensitiva. O cheiro e frescura do ar mudam-nos logo, para melhor, a disposição. Há o prazer adicional de reencontrar, todos os verões, as mesmas pessoas, com quem fomos crescendo, muitas delas já com filhos cada ano maiores, que são agora também amigos dos nossos filhos

Não há rigorosamente nada de exótico nesta versão de férias. Mas há uma agradável sensação de familiaridade, a consciência de pertencermos a um lugar, que associamos sobretudo a tempos  felizes, a dias compridos, a banhos temerários em ondas gigantescas, a verões intermináveis. E estar com algumas pessoas de quem gostamos muito.

Quem lê habitualmente os meus textos estranhará um pouco o tema deste post.

Este texto é a versão em português de um post em inglês com que participei no último LetsBlogOff. Este evento, que se realiza aproximadamente a cada duas semanas, tem, a cada edição, um tema que é desenvolvido pela comunidade cibernauta. O tema da última edição era “How do you relax and recharge?”. Qualquer pessoa pode entrar nestes eventos, desde que tenha um blog, uma conta no twitter e produza o texto em inglês. Podem ver abaixo um link para a minha participação original, bem como para os textos dos outros participantes.