Porque adoro o que faço

Porque adoro o que faço

Desde criança que quis ser arquitecto. Tive o percurso habitual, horas intermináveis a brincar com Lego, gosto por desenhar, muitas vezes plantas de casas, palácios ou naves imaginárias, veículos completamente inverosímeis, reinterpretações dos espaços que via em filmes de animação ou com personagens de carne e osso. Por acaso o meu filho mais velho está sempre a desenhar plantas de casarões cheios de tecnologia, mas como também tem interesse por muitas outras coisas, como biologia, que a mim nunca me disse nada (antes pelo contrário), acho que as semelhanças se ficam por aqui.
No fundo, queria ser uma coisa que não sabia exactamente o que era. Achava que um arquitecto era apenas o tipo que desenhava casas, o que me parecia bastante interessante. Foi uma vocação precoce, mas desde que me lembro não tive outra, à excepção de querer ser astronauta, o que para um miúdo criado em Portugal nos anos 70 e que enjoava em estradas com curvas teria sido uma carreira bastante mais difícil de concretizar.

Consegui cumprir o meu sonho, sou um arquitecto. É uma profissão um bocado ingrata, especialmente quando nos comparamos, mesmo em alturas em que a crise não é uma preocupação, com os nossos amigos de outras profissões e a mesma idade, que nos parecem ter rendimentos e benefícios bastante superiores.

No entanto não me imagino a fazer outra coisa, por uma simples razão: Adoro o que faço! Vou apontar algumas razões:

- O imenso prazer que é imaginar, do zero, um objecto ou um edifício, e vê-lo aparecer, desenvolver-se, tal como o pensámos ou com os aperfeiçoamentos que vamos introduzindo. Estamos a assistir à concretização dos nossos sonhos, do produto da nossa (por vezes delirante) imaginação. E esta razão por si só seria mais do que suficiente para fazer desta uma fantástica profissão. Mas há mais.

- A sensação que por vezes temos de que conseguimos influenciar positivamente a vida das pessoas, aumentando a qualidade do espaço em que se movimentam, inspirando-as e dando-lhes uma solução personalizada, exactamente à sua medida.

- A capacidade que temos também de modificar a paisagem. Não haja dúvidas acerca disto – uma obra de arquitectura tem sempre subjacente a alteração da paisagem em que se insere. Por vezes, em contextos muito degradados, a nossa intervenção é o motor que inspira a requalificação, outras vezes temos um local que já é lindíssimo e tentamos acrescentar-lhe algo, modificá-lo, tornado necessariamente diferente e único. Melhor.

- O processo constante de aprendizagem, com todos os intervenientes do processo construtivo. Cada obra ou projecto que fazemos enriquece as nossas capacidades, permite-nos experimentar coisas novas, corrigir erros, aprender formas melhores ou mais inteligentes de fazer as coisas, que usaremos nos novos desafios.

- O permanente e estimulante desafio que é encarar um novo projecto, com premissas totalmente diferentes daqueles que já realizámos. Alguém nos vai pagar para pensarmos, usando a nossa imaginação, numa solução para um quebra cabeças com inúmeras variáveis. No fundo para fazermos aquilo de que gostamos e para que temos vindo a aperfeiçoarmo-nos ao longo dos anos.

E por vezes, que são poucas, quando acertamos e conseguimos fazer algo realmente diferente, belo ou que resulte especialmente bem, emocionamo-nos, enchemo-nos de orgulho e ficamos com a autoestima nos píncaros.

Nos melhores momentos, é uma espécie de ego-trip. E melhor do que isto é impossível!

Este texto é a versão em português de um post que fiz a convite de Todd Vendituoli, que mantém o blog "BuildingBlox" e que foi originalmente publicado neste blog. O Todd é um norte-americano ligado à construção, que divide o seu tempo entre os EUA e as Bahamas. Se quiser ver a versão original pode fazê-lo aqui.