Hotel Rural na Herdade da Cegonha

O hotel insere-se num complexo turístico a desenvolver numa herdade com cerca de 250 hectares, localizada no centro do Alentejo, abrangendo os concelhos de Portel e Cuba, na envolvente da Albufeira do Alvito. A propriedade é densamente povoada por sobreiros e azinheiras.

 

A estratégia de intervenção passou pela identificação do potencial de cada área disponível, dentro dos polígonos onde a edificação é possível, estabelecendo vocações preferenciais, visando uma relação holística com o território, dele tirando o melhor partido, e contribuindo para a sua valorização.

Partindo da necessidade de distribuir da melhor forma as 25 unidades de alojamento permitidas para o hotel Rural, foi estabelecida uma hierarquia, com um número predominante de unidades standard, algumas unidades mais exclusivas e uma unidade única absolutamente excecional.

As funções não relacionadas com o alojamento foram reunidas em três edifícios:

- O edifício central, que se propõe localizar no local dotado das melhores vistas para o plano de água, a herdade e a paisagem envolvente, que reúne todas as áreas principais de apoio aos hóspedes. O edifício central assume-se como o ponto dominante e facilmente reconhecível dentro do complexo, mesmo a partir do plano de água. Será o landmark na paisagem;

- Um pequeno edifício exclusivamente destinado a apoiar o usufruto da piscina comum. Este edifício tem muito reduzida expressão, uma vez que é subterrâneo, apenas com uma fachada virada à piscina panorâmica, que acompanha o desenvolvimento do edifício central, a um nível inferior;

- Um pequeno edifício de apoio.

Quanto às unidades de alojamento, preconiza-se a sua disposição em pequenos núcleos, de modo a conciliar valores como privacidade, sensação de espaço, sistema de vistas, exposição solar/orientação e relação interior-exterior.

Pretende-se proporcionar uma experiência positiva, diferenciada e impactante, que desde a unidade mais elementar se revista de uma certa exclusividade, proporcionando depois níveis diferenciados dentro do empreendimento.

Em termos estéticos, pretende-se uma imagem arquitectónica bastante qualificada, contemporânea, minimalista, na tradição mediterrânea, de uma arquitectura do Sul, numa aproximação dicotómica que concilie os seguintes binómios:

- Modernidade / Tradição;

- Sofisticação / Valores essenciais;

- Carater genuíno / Cosmopolitismo;

- Qualidade / Conforto;

- Inovação /Raízes ancestrais

Em termos de materialidade, os edifícios terão betão branco aparente, intercalado com apainelados e elementos de madeira, que combinam com caixilharias no mesmo material. As coberturas serão predominantemente ajardinadas.

O edifício central é organizado em “V” aberto, formando um angulo de 146º entre as duas alas, abrindo-se à paisagem a Sudeste, com destaque para as vistas panorâmicas para o plano de água da albufeira, sendo muito mais encerrado para o lado contrário, por onde se processa o acesso principal, e para as duas empenas laterais.

O edifício de 2 pisos foi concebido de forma a minimizar o seu impacto na paisagem, reforçando a horizontalidade. Apenas o piso superior, onde funcionam a maior parte das zonas nobres do edifício, é aparente a todo o redor, uma vez que o piso inferior é semi-enterrado, abrindo-se apenas para a zona frontal e para as laterais.

O edifício desenvolve-se em socalcos, abrindo panos envidraçados para plataformas que se constituem como zonas de estadia panorâmicas, sendo a esplanada do piso de entrada protegida por uma série de palas em betão aparente e madeira.

Um conjunto de volumes escultóricos, tronco-piramidais, proporcionam entradas de luz zenital a diversos espaços do edifício principal. Estes volumes, bem como o dispositivo que enquadra a grande janela que se abre na fachada orientada ao percurso de chegada, são revestidos a cortiça da região escura, aparente.

Estes elementos concorrem para a imagem expressionista e diferenciada do edifício, sendo reminiscentes das tradicionais lareiras alentejanas que existiam nos antigos solares. A cortiça faz sentido pelo contexto de inserção do edifício e também pela mais-valia de sustentabilidade e ecologia.

Arquitectura: Henrique Barros-Gomes, Joana Cabrita e Mélanie Leboeuf

 

Data: 2021

 

Local: Portel, Portugal