Esquissando

Esquissando

Muitas vezes as pessoas perguntam-me, como imagino que façam a todos os meus colegas arquitectos, se eu ainda desenho, ou mais precisamente se eu ainda sei desenhar.

Esta interrogação terá a ver com a importância determinante dos computadores no nosso quotidiano e com a ideia generalizada de que actualmente só se trabalha em ambiente informático, e mais do que isso, que o computador faz todo o trabalho.

A verdade é que passamos provavelmente demasiado tempo em frente aos ditos, mas uma parte fundamental do trabalho, pelo menos para mim, continua a ser feito em papel. Posso estar a usar uma, ou várias, das dezenas de ferramentas ou aplicações que se tornaram imprescindíveis no que faço, mas estou sempre a rabiscar em pedaços de papel, folhas soltas ou cadernos, dos elegantes e hoje em dia mais do que democratizados Moleskines e seus sucedâneos, a todo o tipo de variantes possíveis, em formato, dimensão, tipo de papel ou de capa.

Se há vício a que não consigo resistir, e é completamente irracional, é o de comprar um caderno de esquissos, se me parecer bonito, diferente dos que (acho) que tenho, ou se o preço for apetecível. A seguir chego ao atelier (ou a casa, também lá tenho vários escondidos) e reparo que tenho 27 blocos por começar e outros tantos começados, mas por preencher.

Imagino que a maior parte das pessoas vá para arquitectura, em primeiro lugar, por gostar de desenhar e por parecer, à família (magnífica e irónica ilusão!) que daqui virá uma profissão respeitável, prestigiada e capaz de gerar um rendimento digno, sustentador de uma vida abastada e de sucesso.

A realidade encarrega-se, na maior parte dos casos, de nos realinhar os sonhos, mas, pelo menos no meu caso, o bicho do desenho continua lá.

Se uma coisa boa a faculdade me ensinou é que é pouco relevante a habilidade inata para desenhar. O que é mais importante, e gratificante, no acto de desenhar, é o processo, o gozo de conseguir exprimir uma ideia, um conceito, ou de alguma forma representar a realidade, tal como a vemos, com as nossas imperfeições e limitações. E não há dúvida que a prática conduz a melhorias efectivas no que produzimos. Há muitos anos que desisti de me comparar com os mestres, ou em última análise com as outras pessoas. O que me é saboroso é concluir que determinado desenho não resultou mal, é melhor do que um anterior, ou que consegui, com meia dúzia de traços, e com a tal intencionalidade que o temido professor de desenho do primeiro ano da faculdade me tentou incutir, à custa de resmas de papel e muitas horas de trabalho, representar algo de uma forma que me foi satisfatória. Que me ultrapassei a mim mesmo. Em casos raros, que me emocionou ou me deixou pelo menos realmente contente.

Por isso, com mais ou menos regularidade, continuei sempre a desenhar, não só no dia a dia dos projectos que faço, mas também por mero gozo, a tentar captar no papel fragmentos do que vou vendo, do que me rodeia.

Com toda a sinceridade, não acho mesmo que desenhe especialmente bem, muito menos do ponto de vista técnico, os registos gráficos que faço são na maior parte das vezes para mim próprio, embora nunca tenha sido tímido a mostrá-los aos meus clientes. Aprendi há muito tempo que se o fizermos com um ar convicto, sem hesitações, nos levam a sério, e não nos perguntam como temos coragem de lhes apresentar tamanha porcaria. Pelo menos que me lembre, ninguém alguma vez fez reparos à falta de qualidade dos desenhos, quanto muito pode não ter ficado agradado com a proposta arquitectónica que lhe apresentei.

Com isto tudo reuni tantos esquissos que decidi criar uma conta de instagram específica para mostrar esta parte da minha produção. Alguns destes esquissos foram desenvolvidos em contexto profissional, mas a maioria foi produzida apenas pelo puro prazer de desenhar, ou pelo menos de riscar o papel com um mínimo de intencionalidade. Não sei se serão exactamente o que a maioria das pessoas chama de desenhos…

Quem tiver curiosidade pode pois procurar-me pelo Instagram:

@Sketchbyhbg

Espero que gostem, ou pelo menos que encoraje os curiosos a experimentarem. É realmente divertido e provavelmente vão sair-se melhor do que estavam à espera!