A minha casa de sonho

A minha casa de sonho

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A minha casa de sonho de todos os dias fica mesmo no centro da cidade onde vivo.

Central em termos de localização, será descentrada em relação às ruas mais movimentadas. Também terá algum desafogo em seu redor. Poderá talvez localizar-se num pequeno largo ou praça. Será possível sair de casa a pé e chegar rapidamente ao metro, encontrar lojas, restaurantes e cafés, abertos todos os dias e a qualquer hora. E jardins. Aliás, para o sonho ser completo a casa terá um pequeno jardim murado, onde uma grande e antiga árvore de folha caduca nos lembrará a estação em que estamos e nos fará sentir a passagem do tempo. Uma fonte de água corrente, em blocos de pedra rudemente acabados, irá ganhando patine enquanto envelhecemos, murmurando um rumor contínuo e cristalino. Um deck de madeira queimado pelo sol, contíguo à sala, convidará a celebrar as noites quentes do verão de Lisboa com inesquecíveis jantares. E um minúsculo jardim, muito cuidado, permitirá sentir sob os pés descalços a frescura da relva a crescer. Um luxo.

Não será possível classificar a minha casa de sonho em função da tipologia. Compartimentada, por um lado, mas com grande fluidez espacial, por outro, não deixará transparecer com facilidade o limite entre as áreas sociais e as áreas privadas. Se tiver o tamanho sonhado, será suficientemente flexível para se ajustar às necessidades dos habitantes em cada altura da sua vida, variando a dimensão e configuração da área privada, com recurso a painéis e paredes recolhíveis.

Não poderá por isso ser demasiado evidente, terá de ter alguma complexidade e a capacidade de me surpreender a cada dia. A mim e aos visitantes, que hesitarão, como que perdendo-se momentaneamente lá dentro, o que me provocará sempre um pequeno, quase invisível, sorriso de satisfação. Um dédalo de salas, labirinto sugerido.

Sendo bastante antiga, a casa será impecavelmente remodelada, mantendo apenas os elementos mais interessantes da construção original. Uma remodelação delicada e elegante, atenta ao passado mas com olhos no futuro. Simultaneamente antiga e contemporânea. No fundo, o melhor de dois mundos. Com tectos altos, terá algures uma sala com um tecto ainda mais alto, com grande pé direito, captando lá do alto a luz a todas as horas, o que nos fará sempre olhar para cima. E uma mezzanine com um pequeno escritório. Um grande janelão aberto a Poente, sobre a cidade, revelará ao fundo o Tejo. Terá ampla e variada luz a inundar as paredes brancas e a aquecer os pavimentos em largas tábuas de madeira. E será confortável. Fresca no verão e suficientemente amena no inverno para quase não ser preciso ligar o aquecimento. Não precisarei de ar condicionado para nada.

Esta é a minha casa de sonho. Como é a vossa?