O objetivo do projeto era transformar um antigo forno comunitário, propriedade da família do cliente há décadas, numa confortável casa de férias, com um quarto e espaço para reunir a família quando necessário.
A construção original era um pequeno volume de piso único e cobertura de duas águas, com grossas paredes de granito. Uma área murada, incluindo um alpendre em ruínas, complementava a propriedade.
A região tem invernos muito frios e verões escaldantes. De acordo com as especificações do cliente, a intervenção deveria proporcionar boas condições de conforto para ambas as situações
Localizada numa pequena e bem preservada aldeia do centro rural de Portugal, próxima da fronteira, a casa estava, como muitas em seu redor, fechada e sem uso há mais de meio século.
O projeto assumiu vários objetivos essenciais:
-Manter as bonitas paredes exteriores, ampliando-as até à altura da construção vizinha, permitindo obter maior volumetria e a possibilidade de construir um mezanino.
- Manter o exterior discreto e tradicional, assumindo a possibilidade de converter o interior num espaço muito mais contemporâneo e interessante.
- Compensar a falta de espaço reduzindo a compartimentação ao essencial, procurando também uma certa qualidade volumétrica.
- Converter a área murada num pequeno jardim, com um espaço coberto para acolher refeições exteriores e um elemento de água para amenizar os tórridos verões.
O sóbrio exterior, onde o rude granito é o elemento dominante, não se distingue especialmente das construções envolventes, mas contrasta com um interior de feição claramente contemporânea, acolhedor e confortável, delicadamente trabalhado e com uma luminosidade surpreendente, tendo em conta que as construções tradicionais da zona são por norma escuras e pouco iluminadas.
Um interior organizado como um loft integra as áreas de cozinha, de estar e de refeições num único espaço ao nível da entrada, enquanto as áreas mais íntimas da habitação estão alojadas num mezanino.
O principal elemento focal da intervenção é a escada/banco/mesa/lareira, concebido de forma personalizada para a casa, que estabelece todas as regras para a construção. É este o elemento gerador das geometrias internas, o fio condutor de todo o projeto, que acentua a verticalidade do espaço de pé-direito duplo. É também uma reinterpretação do Showroom Olivetti em Veneza, de Carlo Scarpa, numa humilde homenagem ao grande mestre italiano.
A entrada de luz é controlada com grande cuidado, através de diversas aberturas zenitais que produzem efeitos dramáticos na pedra apicoada e nos elementos de madeira que proliferam pela casa, alterando a sua ambiência ao longo de todo o dia.
Carpintarias personalizadas ajudam a conferir qualidade ao espaço, enquanto providenciam múltiplas zonas de arrumação.
O pátio murado inclui um alpendre, um jardim, algumas árvores que envelhecerão com a casa e uma pequena piscina com os bordos revestidos em pedra. Uma floreira elevada, em aço corten, aguarda pelas plantas que irá albergar.
Arquitectura: Henrique Barros-Gomes
Fotografia: Ricardo Oliveira Alves
Data: 2014/2020
Local: Aldeia de João Pires, Penamacor, Portugal